A CACHORRA DA MINHA MÃE
Chama-se Zuca. O nome
é da cabocla da novela de mesmo nome. Preta
retinta, tinindo de preta, a Zuca. Chegou meio de improviso. Minha mãe morando
sozinha, nossa amiga Patrícia ligou para minha irmã, oferecendo-a como um presente carinhoso. Era a última
filhote da ninhada de labrador. Querida na casa, ia ficar, mas a Patrícia,
atenciosa, imaginou que minha mãe ia logo gostar dela, e ter uma alegre
companhia. Dito e feito. Zuca já é da
família a oito anos.
Já foi uma novela levá-la de Belo Horizonte à Montes Claros.
Vomitou o carro todo, meu cunhado que o diga, e por fim, chegou no colo da Tê,
ambas desesperadas.
Zuca é mais ou menos, e literalmente, um cão chupando manga.
Adorava roer uma perna de cadeira, e ainda hoje, comer a ração e beber água,
não é uma cena muito bacana de se ver.
Não se pode dizer que não é generosa, adora entregar pra
gente, sem recusa, seu osso gigante, o
frango de plástico, e qualquer porcaria que ela ache que pode ser assim, um
presente...
Eu passava uns dias num final de ano na casa da minha mãe.
Calor de torrar os neurônios. Minha mãe
disse, e não acreditei, que a Zuca descobria uns calangos no quintal, (pequenos
lagartos, ou grandes lagartixas, ainda não sei), e “brincava” com eles. Jogava
pra cá, jogava pra lá, os pobres sem saberem que era só amizade, brincavam até a morte, quando ela
então dava por encerrada a brincadeira. Só valia o bicho vivo, portanto. Custei
a acreditar nisso, como não acreditava que ela abria o viveiro onde ficava o
louro, o papagaio que a minha mãe herdou de uma tia muito querida. E lá iam os dois ,em fila, o papagaio à frente e a Zuca
atrás, toda contente.O papagaio era uma estória a parte, pois cantava canções
de sua própria autoria, como uma que intitulei de “O pato”. Era mais ou
menos assim: “ O pato é o papato, o pato é o papaaaaatooooo” e assim ia, até
ficar rouco de tanto cantar. Zuca ouvia
meio enfeitiçada. Mas voltando à minha irmã canina, minha mãe gritou lá do
quintal. A Zuca acabara de achar outro coitado e amigo calango.
A cena era de rir e de dar dó, ela esparramada, o corpanzil
negro e brilhante no chão de ardósia. Entre as patas um calango de uns 20 cm. O
bichinho ficava quieto, de repente corria. E a pata certeira, certamente a
memória ancestral de caçador, cercava a presa. Então brincava, jogando-a jogava pra lá e pra cá. E a gente tentava fazê-la parar. Quer dizer,
minha mãe. Eu corri pra longe da cena tragicômica. Só pedia notícias, de longe:
“Soltou o bicho, mãe?” “grita com ela,
mãe”. Nada.
Minha mãe voltou para a sala, onde eu já estava, morrendo de “gastura”.
Zuca irrompe, num golpe de vento logo atrás dela, como uma louca. Na boca trazia uma prenda
para mim: o calango morto! Jogou no meu colo, toda feliz, como quem diz :“ Olha o que eu trouxe pra você”. Fiquei “levemente” histérica.
Tranquei-me no banheiro, com uma crise de TOC, sabonete,
água, álcool. Não necessariamente nesta mesma ordem. Minha mãe garantiu que estava tudo calmo. Abri
a porta devagar, tentando visualizar a “monstra”
negra. Estava deitada junto à porta da cozinha.
Corri para o quarto . Só ouvi o barulho do seu corpanzil
batendo contra a porta e a risada da
minha mãe.
Olá Sandra!!!
ResponderExcluirComo tenho acesso a pagina do Luso-poemas, li sua poesia PARA ESCREVER UM POEMA, simplesmente maravilhoso. Também tenho um site de poesias eberfonseca.blogspot.com
Ainda estou engatinhando pelos versos da poesia, e quando leio algum poeta da atualidade escrevendo tão bem e com tamanha profundidade de sentimentos me animo ainda mais.Parabéns pelas poesias e pelos contos.
Eber,
ResponderExcluirGrata pela presença. Que bom que também enveredou pelos caminhos da poesia. Árduo, mas maravilhoso caminho.
Abraço.